02/06/2009
A voz
-- Alô?
-- Alô, boa tarde. É o sr. Paulo?
-- Sim.
-- Boa tarde, sr. Paulo, meu nome é Vanessa, sou da operadora XIS, o senhor tem um minuto?
-- Claro, ouvindo essa voz eu posso passar o resto da vida sem Beethoven.
-- Obrigada. Eu gostaria de estar oferecendo para o senhor nosso novo plano de minutos adicionais...
-- Sim eu quero, mas... Qual mesmo seu nome?
-- É Vanessa. O plano de...
-- Tudo bem, Vanessa, não precisa explicar como funciona o plano, eu aceito, pode me cadastrar aí. Mas me diga: alguém já lhe disse que sua voz é linda?
-- (Risos) Já, muito obrigada...
-- Não estou falando do cara que te contratou pra ser telefonista, estou falando do seu namorado, marido.
-- Não sou casada...
-- Com essa voz isso muito me espanta. Feia você não deve ser porque Deus não comete esse tipo de injustiça.
-- Sr. Paulo, eu não posso usar o telefone da operadora para assuntos pessoais...
-- Eu entendo, Vanessa, mas sei muito bem que você tem um tempo limite para me convencer a aceitar o tal novo plano, não é?
-- Sim, é verdade...
-- Muito bem. Como você já me convenceu, temos ainda algum tempo pra conversar, não é verdade?
-- Bem...
-- Ótimo! Me diga, Vanessa, você faz alguma outra coisa com essa linda voz além de gastá-la no telefone?
-- Não, mas essa é a primeira vez que trabalho como operadora de telemarketing.
-- Que bom, ainda há tempo de salvá-la desse mundo horrível! Você pode ser cantora, atriz, dubladora... O que acha?
-- Nunca pensei nisso, não sou boa cantando.
-- Isso se aprende. O essencial você já tem. Sua voz é a mais linda que eu já ouvi na vida inteira, e isso eu estou afirmando tendo ouvido apenas pelo telefone. Acredito que ao vivo seja como ouvir um anjo.
-- Falando assim o senhor me deixa sem jeito...
-- Não fique, não fique. É tudo verdade! E não me chame de senhor, me chame de Paulo. Tenho 34 anos, e você?
-- Tenho 27...
-- Sua voz é magnífica! Me deixa maluco. Fico imaginando poder ouvir você dizer coisas como "paralelepípedo", "framboesa", "flores", "amor", "Preciso de você agora"... Pode dizer pra mim?
-- Senhor... Paulo, preciso desligar.
-- Por favor, Vanessa, não desligue sem me passar seu telefone. Não pense mal de mim, realmente gostei de você.
-- O regulamento não...
-- Não diga "não". Eu preciso te conhecer! Ouça: não precisa ter medo, não sou nenhum maluco ou tarado. Sou escritor, sua voz me inspira. Me dê uma chance, sim? Ao menos guarde o meu número e me ligue depois. Pode fazer isso?
-- ( Risos) Tudo bem, mas agora preciso desligar.
-- Então até logo, meu anjo...
-- A XIS agradece a atenção, tenha uma boa tarde.