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O que está acontecendo?

12/03/2010

Avatar e seu mundo plug-and-play

Realmente fiquei impressionado com o filme, e olha que assisti a "versão popular", em 2D, numa tela de 14". Imagine então você, sortudo internauta, que vive numa cidade civilizada, com um cinema 3D a seu dispor, e não perdeu essa oportunidade única. Ficou de boca aberta ou não?

Quem é inimigo do Hollywood's Way of Life ou não simpatiza com o ilustre sr. James Cameron e suas obras, pode espernear a vontade e gastar todo seu latim plebeu. O filme é um marco da junção arte/tecnologia e vai ficar na história.

É a primeira vez que vejo rostos computadorizados com boa qualidade na expressão. Ainda não é perfeito, mas falta pouco pra alcançarem todos os detalhes da expressão humana. Claro que no filme Avatar as falhas passam ilesas porque os Na'vi não são gente como a gente. Eles são supercaras gigantes e azuis, com uma bela cauda e feições que misturam o rosto humano com um toque felino e de anta ao mesmo tempo.

A história em si não é nenhuma novidade revolucionária, tudo pode ser resumido na velha peleja do bem contra o mal, o herói de alma nobre que salva a mocinha e blá blá blá. Mas, ora, o roteiro é perfeito para o tipo de produto e público alvo. Registre-se aí como público alvo “all the world – o mundo todo”.

Num filme tão caro seria loucura fugir desse padrão mitológico e estratégia comercial. Imagine todo esse dinheiro e tecnologia empregados num filme como o Distrito 9. Seria um deleite para os obscuros aficionados de carteirinha por ficção científica e ao mesmo tempo um pesadelo para os produtores, que contemplariam todo seu investimento escorrendo pelo ralo devido a avaliação do populacho, que rotularia o filme como esquisito, violento e complicado. E a bilheteria não teria filas quilométricas, coisa que, afinal, é o objetivo dos capitalistas por trás de qualquer pequena/média/grande produção hollywoodiana. Pay the ticket and enjoy the movie!

Entretanto, o que me põe mesmo pensativo e me faz estar aqui, gastando os dedos no teclado, é aquele conceito interessante de uma natureza plug and play presente no filme, ou melhor ainda, o plugue USB orgânico que todos os seres do planeta Pandora possuem. Essa ligação faz com que as criaturas interajam, de maneira que se você for um Na'vi pode se conectar com as árvores e conhecer o passado da tribo, pode cavalgar um animal estranho de seis patas ou sobrevoar as montanhas flutuantes montado numa espécie interessante de cruzamento entre borboleta e dinossauro.

É uma visão moderna para a teoria de Gaia, teoria esta condenada e combatida por praticamente todas as religiões que conheço. Essa teoria tem sua base apoiada na ciência, mesmo assim é um tanto quanto esotérica. Defende a concepção de que existe uma ligação profunda entre as criaturas e o planeta Terra, sendo que este é vivo e, de certa forma, pensante, assim como parece ser o planeta Pandora (nome sobrecarregado de significado, diga-se de passagem).

O filme gera muita polêmica justamente por causa dessa treta aí. É a velha peleja entre quem conduz a verdade e quem é conduzido por ela. Particularmente “acho isso tudo uma grande piada e um tanto quanto perigosa”, parafraseando Raul Seixas. Quem liga? É só um filme. De mais a mais, se a Terra fosse mesmo pensante, perceberia que o ser humano é um parasita muito incômodo. E se coçaria e sacudiria como um cão pulguento.

Epa, peraí! Mas parece que e a velha bola de lama azul e verde anda a fazer justamente isso! Será que está havendo um conflito de hardware entre você o chão que você pisa? Talvez um update resolva. Quem sabe? Vamos aguardar o lançamento de Avatar 2 pra ver se o velho mago James não explica direito essa parada aí.