23/085/2010
Livros são cápsulas do tempo ou Não use marcadores de livro
Antes de dispor um livro à venda nas estantes do meu sebo, costumo passar um pano úmido pra tirar um pouco da poeira e do… sebo. Também dou uma folheada na esperança de encontrar alguma nota de cem dólares. Sim, é difícil mas não impossível. Se já aconteceu com outros, pode acontecer comigo. Me deixe sonhar!
As vezes, muitas vezes, encontro coisas esquecidas entre as páginas. Insetos secos, folhas e flores secas. Trevos de quatro folhas. Marcadores. Cartões de visita, contas de água e luz. Fotografias. Recibos, bilhetes de loteria. Receitas médicas, listas de compra, cartas.
Já ouvi falar de pessoas que colecionam essas coisas encontradas no meio dos livros. Devo parecer (ser?) um cara muito insensível, pois costumo jogar solenemente no lixo tudo que encontro, após um olhar frio que envolve complicados cálculos mentais a cerca do valor de mercado do item encontrado. É isso, sou frio e calculista.
Também sou chato. Tecnicamente falando, não se deve usar como marcador de páginas nada que tenha espessura maior do que uma folha de papel simples. Qualquer coisa mais espessa que isso tende a danificar o livro. Guarde isso. Ninguém gosta de livros danificados, muito menos quem tenta vendê-los, como é o meu caso.
Dias desses encontrei essa lista e me pus a pensar. Será que finalmente a dona Tereza vai desencalhar? Gastando assim, com essas coisas de maquiagem, é certeza que algum distinto senhor vem cortejando-a há algum tempo. Nunca é tarde para o amor, nem mesmo em se tratando da dona Tereza. E se até ela se arranjou, quem sabe eu também não me arranjo? Afinal, todo chinelo velho tem o seu pé inchado.
Ou talvez não seja nada disso. Talvez a dona Tereza esteja apenas jubilosa com a formatura do filho, ou da filha, e quer estar radiante na cerimônia de formatura. Ou na festa, todo mundo sabe que ela é uma viúva que ainda tem muito amor pra dar. Será?
Na verdade, dona Tereza já não está mais entre nós, morreu em 1998, vítima de uma bala perdida enquanto transitava a praça da Sé em São Paulo. Estava visitando a capital pela primeira vez! Coitada, caipiras não costumam ter sorte por lá.
Livros são tão versáteis que podem até mesmo ser considerados cápsulas do tempo pessoais. Muita gente reencontra sua história quando resolve se livrar de seus livros velhos e/ou fazer uma limpeza em casa. As vezes são felizes, ao encontrar aquela foto perdida do pai, da mãe querida. Outras vezes encontram antigas feridas cicatrizadas, ou não. Livros são assim, cada página esconde uma surpresa no verso…
Eu só sei que continuo sem encontrar o meu dólar e a dona Tereza faz tempo que não aparece aqui pra trocar “Bianca/Julia/Sabrina” a dois por um comigo. Deve ter arranjado coisa melhor pra fazer do que ficar lendo esses romances água com açúcar.