longe vai
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O que está acontecendo?

30/08/2010

273 dias

Hoje eu completo nove meses de abstinência do tabaco. Se meus cálculos estiverem corretos. Parei exatamente no dia 30 de novembro de 2009, apagando minha última bituca de cigarro às 12:45h.

Parar de fumar é algo traumático como nascer. Você é arrancado do seu ninho de conforto e prazer. Toda sua visão sobre si e o mundo são tiradas do eixo após séculos de estabilidade. Por algum tempo a vida perde o sentido e acreditamos que o fim do mundo finalmente chegou.

Enquanto eu era fumante, girava em minha mente um complexo sistema de racionalização e argumentação meta-físico-teórica-filosófica que tornava justo e certo ser viciado em cigarros light. Bom, isso não é facilmente compreendido por uma pessoa normal (sim, quem não fuma é mais normal). Em contra partida, é deliberadamente sublimado por qualquer fumante de carreira.

De fato, só um ex-viciado pode entender um ex-viciado.

Mas é muito chato conversar com um ex-fumante. Absolutamente todos os ex-fumantes são chatos crônicos. Na verdade, pensando bem, fumantes costumam ser gente fina… Olha só eu entrando naquela sistemática de novo!

É a solidão do abandono do útero materno. Por falta de saída, acabo me conformando com esse solilóquio do abstêmio que lambe as próprias feridas, numa autocomiseração saudável. Sim, saudável. Imagino que seja fruto do instinto de autopreservação. Falar consigo mesmo as vezes pode salvar um homem da loucura. Veja o caso de Tom Hanks no filme “O náufrago”.

Enfim, ainda sinto a crueldade do metal frio da pia onde se lavam os recém nascidos. Será que é possível que um dia se feche essa ferida tão viva?