06/09/2010
A história digital sem fim
Estou lendo o livro “A história sem fim” no meu Alfa.
Segundo o site de pesquisa de preços Bondfaro, o livro está a venda em oito livrarias virtuais diferentes, com preço variando de R$ 41,26 a R$ 54,90. E eu estou lendo uma versão digital. Uma versão ilegal, já que esse livro não é vendido em formato digital no Brasil.
Isso é um crime.
E por que eu estou cometendo esse crime? Porque eu quero ler esse livro agora, não outro. E por que eu sou um criminoso? Ora, eu não comprei e nem ganhei uma edição do livro, eu simplesmente pesquei na Internet uma versão digitalizada ilegalmente, clandestinamente.
Não sei quem teve a paciência de digitalizar quase 400 páginas (e olha que é um livro infanto-juvenil, sem figuras). Seja lá quem foi prestou um grande favor pra muita gente. Eu, por exemplo, não gastei nenhum centavo, ou melhor, muitos centavos. Sou um ladrão impune que se deleita com a própria sordidez. Um leitor bandido.
E o autor? Tenha dó do autor! Se ele não for remunerado por seu trabalho, não se sentirá motivado a criar outras histórias. Mas acontece que Michael Ende, o alemão batuta que escreveu o livro, partiu em 1995 para um lugar onde, acredito, receber dinheiro a troco de criatividade não seja algo pensável.
Claro que existe o importante trabalho do tradutor, que quando é bom consegue transportar toda a magia do texto original para sua língua pátria. Nesse caso, estamos falando de Maria do Carmo Cary, tradutora da versão brasileira. Muito bem, o livro está na décima edição, foi lançado no Brasil pela Martins Editora em 1991. Na minha cabeça louca imagino que dona Maria foi (ou está) bem paga.
Então chegamos a seguinte conclusão: quem está recebendo o grosso dos royalties, ou seja lá qual for o nome disso, não está ligado a criação da obra. Pensar assim tira o peso da minha consciência e me faz sentir menos criminoso.
E eu fico me perguntando quando será que o livro terá uma versão digital oficial. Será que terá? Será que será? E quanto custará?
Porque se eu não posso adquirir por meio honesto e com preço justo os livros que quero ou necessito ler, seja em papel ou no meu e-reader novinho, nada me impede de procurar outra saída para saciar minha fome de palavras. Desculpas sempre existirão.
"As paixões humanas são misteriosas, e as das crianças não o são menos que as dos adultos. As pessoas que as experimentaram não as sabem explicar, e as que nunca as viveram não as podem compreender. Há pessoas que arriscam a vida para atingir o cume de uma montanha. Ninguém é capaz de explicar por quê, nem mesmo elas. Outras arruínam-se para conquistar o coração de uma determinada pessoa que nem quer saber delas. Outras, ainda, destroem-se a si mesmas porque não são capazes de resistir aos prazeres da mesa — ou da garrafa. Outras há que arriscam tudo o que possuem num jogo de azar, ou sacrificam tudo a uma idéia fixa que nunca se pode realizar. Algumas pensam que só podem ser felizes em outro lugar que não naquele onde estão e vagueiam pelo mundo durante toda a vida. Há ainda as que não descansam enquanto não conquistam o poder. Em suma, as .paixões são tão diferentes quanto o são as pessoas.
A paixão de Bastian Baltasar Bux eram os livros"
(excerto do livro)