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O que está acontecendo?

27/10/2010

A evolução do homem II

Esse post é uma continuação de uma postagem de 2009 do meu blog velho.

Me considero um homem abençoado por não precisar de nada além das minhas pernas para me locomover.

Algumas coisas mudaram depois daquele post. Não estou mais com aquela linda bicicleta azul. Vendi para meu irmão algum tempo depois que troquei de emprego porque o caminho de casa para o trabalho ficou curto. E também, ao me mudar da casa-estúdio para a casa-sebo, o trabalho ficou mais perto ainda, de maneira que são cinco minutos de caminhada.

Sete, se eu estiver com preguiça.

E, rapaz, ultimamente sou só preguiça. Parei de fumar e engordei 10 quilos. Olha só! Fumar emagrece, você sabe por quê? Porque é um fuck veneno, é por isso!

Minha cidade continua pequena e os carros nas ruas continuam a se multiplicar, preenchendo todos os espaços, se “acotovelando” por vagas no centro, tomando conta de todas as ruas quando cai uma chuvinha qualquer. E sempre, sempre obrigando o pedestre a acelerar o passo e ficar esperto na travessia.

No leito carroçável das vias de Pirassununga não jazem dormentes as platinadas e barulhentas carroças motorizadas dos pirassununguenses.

Parece que não há limites para o crescimento da frota. Não consigo compreender como a indústria consegue despejar tanto zero quilômetro no asfalto, vendendo com prestações a perder de vista, sem que os carros mais velhos realmente saiam de circulação. É um mistério.

Em breve vamos precisar de ruas de dois andares.

Me disseram que a culpa é do Vargas, aquele saudoso ditador. A nossa inclinação para as rodovias, caminhões e óleo Diesel não nasceu naturalmente, sabia? Foi uma decisão política. Optamos pelo piche do asfalto ao invés do cascalho das linhas de trem.

Mas isso foi bom, heim? Porque hoje podemos dizer com orgulho nos comerciais de TV que o brasileiro é apaixonado por carro. E é uma paixão tão grande que leva o caboclo a pagar 10 mil num carro de 15 anos. Em países de gente fria e sem paixão, como o Canadá, um carro dessa idade é vendido a preço de cacho de bananas: uns 3 mil. Essa gente não sabe dar valor ao que tem!

É… aí no Canadá, dá.

Enquanto isso, aqui no nosso rincão, no dicionário da prefeitura de Sucupira do Sul, palavras como “pedestre”, “ciclovia” e “transporte coletivo” não existem e, de quebra, planejamento urbano é uma piada de mau gosto. E mau gosto há de sobra, coisa fácil de se constatar vendo a beleza dos prédios públicos que estão brotando aqui em solo curimbatá!

Mais uma vez dou graças a Deus pelas minhas boas pernas, porque aqui tudo é na base da escada!

Andar a pé, ou mesmo de bike, é algo que sempre me causa azia, sabe por quê? Porque eu fico reparando nas coisas e começo a cutucar o diabo que mora dentro do meu fígado. O que eu vejo se resume a isto:

Essa é mais uma maldita cidade brasileira feita para ser percorrida de carro, onde andar a pé é um exercício de paciência, andar de bicicleta é tentativa de suicídio e de moto é mesmo coisa pra cachorro louco.

Só quem é pedestre de carteirinha consegue captar toda a dimensão do que estou tentando dizer. E é uma pena, porque a maioria somos nós, os mais pobres, os que não tem voz e nem vez, o povo que é apenas um detalhe.

E é aí que está uma das causas do problema todo: quem manda, quem faz a lei, quem planeja, quem fiscaliza e faz cumprir, essas pessoas não andam a pé, não andam de bicicleta e nem mesmo de moto. São pessoas que saem com seus carros brilhantes de suas garagens com portão eletrônico e cerca eletrificada e vão governar. Pessoas que não estão nem aí pra você, amigão.

Agora, faça um teste, deixe o carro em casa um dia, vá andando para o trabalho e você verá. Você vai ver muita, mas muita coisa mesmo. Mas tenha cuidado: conheço um senhor distinto, muito alto e muito grande, que na primeira caminhada enfiou a perna num buraco e quebrou o pé. E isso foi nas calçadas do bairro dele.

Fico pensando em quanto tempo vai demorar até o carro perder valor no consciente inconsciente coletivo brasileiro. Se formos esperar todos esses automóveis que estão tomando conta das ruas virarem sucata e não valerem absolutamente nada, ainda vai levar muito, muito tempo…

E viva o Brasil, e viva Cacilda Becker!