25/11/2010
Depois vocês vão querer saber onde isso está

Foi mais ou menos isso que Mark Chapman disse ao enfiar o LP Double Fantasy atrás da guarita que fica em frente ao Hotel Dakota, em Nova Iorque. As palavras foram dirigidas a Jose Perdomo, porteiro do hotel, e a Paul Goresh, fotógrafo amador.
Chapman tinha acabado de conseguir um autógrafo de John Lennon naquele disco e planejava matá-lo assim que retornasse ao hotel.
Hoje, 30 anos depois, o LP com o autógrafo de John e as digitais dele e de Chapman está indo a leilão pela bagatela de 850 mil obamas.
A RELÍQUIA
Era isso que se passava na mente perturbada de Chapman, ele sabia que um dia aquele LP valeria muito e seria um símbolo: o último autógrafo de John Lennon. Por isso, não é difícil de entender porque o atual dono do LP está sendo ameaçado de morte: dar tanto valor e atenção a esse objeto é fazer a vontade do assassino.
O objeto na verdade é uma herança maldita mas, como tudo que é intimamente ligado a um ídolo martirizado, acaba ganhando aura de relíquia. Exemplos disso não faltam. Mas nesse caso é um objeto duas vezes amaldiçoado, já que foi premeditado. Chapman quis que aquele objeto, e nenhum outro, fosse o altar onde seu ídolo seria imolado. O último disco, o último autógrafo.
O problema das relíquias é que, em geral, são objetos sem muito valor real. Como Paulo Francis mais ou menos previu, o álbum, que musicalmente não era lá grande coisa, ganhou uma grande relevância a partir do dia em que Lennon se foi. As críticas de três meses antes diziam que o disco era “um desastre egocêntrico”. No dia seguinte a morte de Lennon, o LP sumia das prateleiras das lojas na mesma velocidade em que as bocas dos críticos se fechavam.
Resta saber o que é pior em toda essa história: o disco ruim, a polêmica do leilão ou a certeza de que Mark Chapman alcançou mais um dos seus objetivos.