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O que está acontecendo?

31/07/2011

Revolução na minha mesa

TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS, MAS ALGUNS ANIMAIS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OUTROS

Ignorar e não se importar são coisas diferentes. Ignorar é não conhecer, não saber. Não se importar é ser indiferente e é uma ação que pressupõe conhecimento prévio, por menor que seja.

Isso explica porque tanta gente se recusa a assistir documentários e conhecer mais profundamente sobre a criação industrial de animais.

O que se vê nesses filmes já é mais ou menos conhecido, mas não em cores bem definidas. A partir do momento em que você se torna conhecedor dos detalhes e vê em cores nítidas como as coisas acontecem e como funciona o mundo da produção industrial de carne e o uso industrial de animais, acaba sendo forçado a tomar uma posição consciente e deixar de lado qualquer manto de hipocrisia e ignorância, escolhendo um dos lados. Como em vários outros aspectos da vida, enquanto você não faz isso, vive semi imerso na realidade. Veja só uma coisa: você provavelmente imagina isso quando pensa em criação de gado:

mas na verdade pode ser assim:

É evidente que a ignorância parcial (porque, como eu disse, invariavelmente temos uma vaga idéia de como as coisas funcionam) nos preserva em segurança na nossa zona de conforto. Existe um muro entre nós e certos fatos, um muro que nós mesmos construímos usando alguns tijolos presenteados pela vida moderna.

Conhecimento traz sofrimento e ignorância é benção. Concorda?

SOMOS TODOS CRIADORES POR PROCURAÇÃO

Ao consumir algum produto, automaticamente o consumidor entrega ao produtor uma procuração dando o aval para que aquele determinado produto seja feito. Isso implica na concordância com todos os detalhes e métodos da produção. Isso está escrito lá nas letras miúdas. Mas afinal, quem tem tempo pra ler as letras miúdas, não é mesmo? Considere-se um criador de animais a distância. Você consome mais ou menos uns 90 quilos de carne anualmente.

Vou colocar em poucas palavras o que você assina em baixo com tinta invisível porém indelével sempre que come um alimento industrializado de origem animal:

Talvez você já saiba mais ou menos disso, mas talvez não. E esses são apenas alguns aspectos do consumo, que não se limita só ao que você mastiga, já que do boi, do porco, da galinha e de outros bichos só se perde o grito.

ESSA É A PARTE QUE ME CABE

A minha cota de vaga ideia de como as coisas são foi contraída de um baterista com quem eu tocava. Um vegan militante, portanto um chato tagarela. Eu era bem novo, obviamente na época eu apenas ria e dava de ombros. Mas a sua postura, mais do que as suas palavras, sempre foi uma lembrança cutucando minha mente.

Algo me trouxe até aqui, até essa posição nesse momento da minha vida. Não sei o quê exatamente e não me incomoda não saber. Não vejo isso como algo bom ou ruim, é apenas o caos ou algo desse tipo, ou outras dessas bobagens em que acreditamos ou deixamos de acreditar.

Fato é que assim como não é possível desver o que foi visto, não dá pra esquecer o que se passa a conhecer. Sabendo disso e consciente de que provavelmente eu fosse ficar incomodado, assisti ao filme Terráqueos.

Penso que foi talvez aí que algo mudou aqui nesse coraçãozinho de pedra. Esse filme plantou na minha cabeça sérias dúvidas sobre o modo como me relaciono com os animais, tanto na posição de indivíduo como na de representante da minha espécie. Foi nesse mesmo estado de espírito que, procurando mais sarna pra me coçar, li o livro Comer animais, de Jonathan Foer.

Virar o rosto e continuar cortando meu bife deixou de ser para mim uma opção correta. Simplesmente não mais me sinto confortável comendo carne e usando voluntariamente coisas de origem animal. Optando conscientemente por esse caminho, resolvi mudar meus hábitos.

É comum que as pessoas que se tornam vegetarianas o façam repentinamente e bem cedo na vida, geralmente na adolescência. Estou no grupo da exceção, passei da idade de “inventar moda” e estou deixando de comer carne paulatinamente.

Pode ser mais um passo na minha busca por autoconhecimento, na definição da minha personalidade, sei lá. Pense o que quiser enquanto penso que está tudo bem e no devido lugar. Hoje mais do que ontem.

MAIS DÚVIDAS DO QUE CERTEZAS

Posso estar errado mas acredito que, da mesma forma que existem mais motivos para se parar de fumar do que para se continuar fumando, o mesmo pode ser com comer carne. Calma, não estou dizendo que comer carne é um vício que prejudica a saúde em níveis alarmantes. Afinal, é lógico que você pode parar quando quiser :D

Mas, no frigir dos ovos que nunca mais comerei, é interessante notar que na decisão de se parar de fazer algo o que pesa mais é sempre um detalhe, um único ponto, as vezes subjetivo e extremamente pessoal.

Por exemplo, talvez meu principal motivo para largar o cigarro tenha sido o cheiro desagradável que ele deixa na pele e nas roupas, além do hálito. Não para o meu nariz, mas para o dos outros.

Seguindo esse princípio, posso dizer que o motivo primal para eu parar de comer carne e seus derivados talvez seja por não concordar que animais sejam tratados como coisas. E que isso seja feito para mim, para o meu paladar, através do meu aval como consumidor.

Cada um se prende a questão que lhe é mais relevante. Talvez alguns futuros vegetarianos se preocupem mais com a questão ecológica ou de saúde física. Pode ser. Mas o ponto é que motivos para parar não faltam e são numerosos. Por outro lado, razões para manter o bife no cardápio em geral são bem questionáveis. Ou não.

Essas são minhas opiniões e minhas escolhas. Aos amigos e chegados que acompanham meu bloguinho e que podem estar estranhando minha mudança, quero relembrar os seguintes posts que mostram mais ou menos a evolução dessa mudança de postura. Não, essa não é mais uma modinha do robertão :)

Só quero que não fiquem loucos matutando muito nisso e tentando classificar as atitudes da pessoa mais importante na sua vida: eu. Não tenho que provar nada a ninguém, morram todos.

A PARTE DIFÍCIL

Duas coisas ficaram muito nítidas para mim quando comecei a refletir sobre o vegetarianismo e a decisão de se evitar o consumo de produtos de origem animal:

  1. Se metade de quase tudo vem do petróleo, a outra metade vem de animais.
  2. As pessoas se reúnem e confraternizam em volta de mesas, na partilha do alimento, onde a fartura é festivamente representada principalmente pela presença de carne.

São dois pontos que tornam complicada a vida de um vegetariano. A primeira porque dificilmente um vegan consegue manter longe do seu carrinho de supermercado coisas que tem relação direta com produção animal. A segunda, porque acaba por isolar, limitar ou no mínimo dificultar o convívio social, as vezes quebrando ritos e tradições familiares e jogando um ex-carnívoro no limbo social. Imagine um vegetariano num churrasco, na ceia de Natal, numa festa de aniversário. Dependendo da postura adotada por ele, atrito e desconforto podem ser seu cartão de visitas.

Vivo num círculo social pequeno e estou confiante de que não serei mal tratado por tomar a decisão de parar de comer carne, porém imagino que torno as coisas um pouco complicadas. Mas acima de tudo espero não virar um vegetariano chato, assim como tenho procurado não ser um ex-fumante chato.

Outra questão é a que se refere a necessidade nutricional, que mesmo não sendo consenso, é bem definida. A carne e seus derivados são uma fonte fácil e muito barata de proteína e de uma vitamina essencial para o organismo: a B12. Isso significa que fora da dieta onívora comum, alimentar-se adequadamente dá mais trabalho e gastos extras.

Mas acredito que para fazer-se o que se considera certo todo esforço é válido porque é necessário.