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O que está acontecendo?

22/05/2012

Cigarro Eletrônico – um review genérico

Esse é um review diferente. Vou falar mais sobre um conceito do que sobre um produto específico. Mas antes vou dar o meu rap lamentativo costumeiro.

Depois de dois longos anos longe do cigarro, voltei a sofrer surtos de fissura e caí em tentação. Aquele meio maço de Free azul com isqueiro e tudo que eu tinha lacrado e pendurado na parede do meu sebo no final de 2009 foi violentamente violado pela minha pessoa. Nem me preocupei com o fato de os cigarros estarem vencidos, talvez mofados. Para horror geral, fumei-os todos!

Voltar a fumar depois de todo esse tempo pode parecer uma grande burrice aos olhos de quem nunca foi viciado. E é! Como as estatísticas mostram que o vício do tabaco é um dos mais difíceis de serem superados e a recaída é muito comum, perdoem esse pobre homem fraco.

Fracamente, digo, francamente, sofri muito durante esse tempo. Todos aqueles argumentos excelentes e lógicos que me mantinham afastado do vício, arrebanhados e alinhavados com muita convicção nesse interim, caíram como um castelo de cartas. Não significaram nada na hora do aperto, por mais fortes que fossem. Como me lembrou um amigo, sou humano, afinal de contas.

E como já dizia Voltaire, “a natureza sempre tem mais força do que a educação”, por isso “o homem se precipita no erro com mais rapidez do que os rios correm para o mar”, mas “é preferível um vício tolerante a uma virtude obstinada”. E, já que é assim, o jeito é relaxar porque “a preocupação é uma doença em que cada paciente deve tratar-se a si mesmo”. E sendo que “o segredo de não se fazer cansativo consiste em saber quando deter-se”, vou parar de emendar esses rifões!

Nesses dias de triste derrota, acabei me deparando com cigarros eletrônicos muito baratos no Deal Extreme. No impulso, comprei. Numa situação muito comum aos fumantes que optam por essa saída, só depois de ler e me inteirar do assunto tomei conhecimento de que na verdade esse determinado modelo não é dos melhores. Li bastante coisa nesse fórum aqui e acabei então comprando algumas peças para montar meu ecig de iniciante nesse site aqui. Além das lojas indicadas por esse fórum, encontrei essas que vendem para o Brasil e cujos preços não são tão absurdos:

Nas lojas nacionais o material é bem mais caro, porém a entrega é garantida e rápida. Comprar diretamente de sites internacionais fica muito mais barato mas a encomenda pode demorar, além de correr risco de ser taxada ou mesmo confiscada. O brasileiro é um feriado e os guardas da fronteira são uma festa! Geralmente quando eles identificam o que é, enviam para análise na ANVISA e aí é adeus...

Antes que eu me esqueça, preciso dizer algumas coisas que o meu advogado aconselhou:

CONFORME PORTARIA DA ANVISA, A IMPORTAÇÃO E O COMÉRCIO DE CIGARROS ELETRÔNICOS ESTÁ PROIBIDA NO BRASIL DESDE 2009. ESSE TEXTO NÃO É DE MODO ALGUM APOLOGIA AO USO DESSE TIPO DE EQUIPAMENTO. NÃO EXISTEM ESTUDOS CONCLUSIVOS SOBRE A SEGURANÇA DO USO DESSE TIPO DE EQUIPAMENTO.

Feito isso, vamos ao que interessa!

Anatomia do cigarro eletrônico

O funcionamento do ecig é básico. A bateria está ligada a uma pequena resistência (como as de chuveiro, mas bem menor) que por sua vez está em contato com o líquido de sabor (chamado de e-juice ou e-líquido e que pode ou não conter nicotina). Quando a bateria é acionada, manual ou automaticamente, ao mesmo tempo em que se aspira o ar através da piteira, o ar frio entra e é aquecido pela resistência juntamente com o líquido, gerando um vapor aromatizado. O vapor perde rapidamente o aroma após ser aspirado e expelido pelos pulmões, daí o ecig ser considerado inofensivo a quem estiver próximo ao fumante. Também o fato de conter apenas nicotina ao invés das quatro mil e tantas substâncias comumente encontradas no cigarro é o motivo levantado por muitos para considerá-lo minimamente seguro.

O ecig só é identificado como cigarro pela aparência e por conter nicotina na essência usada para dar sabor. Para todos os efeitos, ele não passa de um vaporizador pessoal, daí a razão de se rotular a ação de vaporizar ao invés de fumar.

Meu equipamento de vaporização pessoal

Comprei duas baterias padrão Joye 510, uma manual e uma automática, de 180mAh, carregador USB, dois frascos de 10ml de líquido sabor café com nivel médio de nicotina (16mg) da marca Dekang e três cartomizadores Health Cabin dual coil 1,6ml. Ficou um pouco mais barato que comprar um kit pronto. Esse seria o material básico suficiente para um fumante de no máximo um maço por dia.

Foto de um cigarro eletrônico

As baterias, sendo de boa qualidade, têm vida útil de no mínimo um ano. As resistências presentes nos atomizadores, cartomizadores, clearomizadores e outros, têm vida variável mas geralmente curta, podendo durar de semanas a meses. Quanto ao lico, duas a quatro gotas são suficientes para uma ou duas sessões de vaporada.

Primeiras impressões

Depois de abastecer o cartomizador (parte que reúne piteira/cartucho e atomizador) com o e-juice e rosqueá-lo na bateria, tive um pequeno ataque de covardia. Fiquei com medo de acionar o botão e aspirar alguma fumaça tóxica, daquelas de plástico queimado. Meditei por alguns segundos, recapitulando todas as milhares de vezes em que traguei os mais diversos tipos de cigarros, dos bons aos mais baratos, e toda a fumaça que eu aspirei nos meus trinta e poucos anos de vida. Vamos lá, Robertão, nada pode realmente ser pior do que todos aqueles cigarros do Paraguai, nem de toda fumaça preta de caminhão que volta e meia a gente respira nas ruas!

Foto de um cigarro eletrônico

A primeira aspirada foi tímida, apenas para ver se o gosto não seria ruim. Como não foi, parti então para uma puxada mais forte, juntando vapor na boca e tragando junto com o ar. Na terceira, traguei direto pros pulmões.

Ao tragar e soltar uma boa quantidade de vapor do ecig duvidei seriamente de que aquilo era, de fato, vapor. Sério. Precisei que me dissessem que a fumaça não tinha cheiro para ter certeza de que eu não estava empestando a casa. É realmente muito parecido com o cigarro convencional!

Mas como isso funciona?

A explicação para a semelhança entre a fumaça/vapor dos cigarros convencionais e cigarros eletrônicos é simples. Quando você aspira o ar através de um cigarro comum aceso, duas coisas acontecem: o ar alimenta a queima do fumo, que por sua vez gera fumaça, enquanto que o calor condensa a umidade presente no ar e no cigarro, de maneira que você traga uma mistura de fumaça e vapor d'água.

No caso do cigarro eletrônico, apenas vapor é produzido no processo de aspiração pois não há queima de nenhum material, apenas aquecimento do líquido de sabor. Mesmo variando de acordo com o modelo do aparelho, a ação e sensação de tragar e soltar a "fumaça" é muito parecida com a de cigarros normais. Até mesmo a característica de Throat Hit (coice na garganta) está presente no ecig, o que explica sua grande eficiência em emular o hábito de fumar e seu sucesso na eliminação do vício de forma muito suave.

Mais informações tecnicas sobre o ecig e o e-juice, você encontra na Wikipedia. Outras informações gerais nesse artigo aqui.

Diferenças

Os melhores ecigs guardam pouca semelhança física com os cigarros convencionais. São bem maiores, eu diria que mais se parecem com charutos, principalmente no modo como acabam sendo segurados. Esse modelo que montei, que é dos menores, é pouco maior que um cigarro slim, semelhante as cigarrilhas.

O peso é maior e o equilíbrio na mão é bem diferente, principalmente no caso de se usar baterias manuais. A posição do botão obriga a segurar de um modo diferente. No entanto, isso pode ser uma vantagem pois permite também uma grande liberdade de empunhadura. A questão de haver a necessidade de apertar um botão para fumar parece ser algo incomodo a primeira vista, mas a gente se acostuma rapidamente.

Diversos cigarros eletrônicos

O hábito de deixar o cigarro pendente nos lábios me faz alguma falta, coisa inviável por causa do peso do ecig. Posso dizer que essa é a única diferença gritante. Todo o resto é extremamente parecido. De mais a mais, sempre é possível segurar nos dentes, como se fosse um charuto.

Outra característica interessante é o modo de fumar. No eletrônico não existe um compromisso de dar um número x de tragadas. O convencional te obriga a fumá-lo ou ele se fuma sozinho. Isso torna difícil mensurar o quanto se está fumando. Pelo que li, os adeptos costumam simplesmente vaporar a intervalos regulares que variam de 10 a 20 tragadas.

A nicotina e os malefícios do cigarro

Você pode aprender muita coisa sobre a nicotina lendo o verbete na Wikipedia, o texto bem esmiuçado do médico Drauzilo Varella ou o artigo do site Como Tudo Funciona. Apenas quero frisar algumas coisas:

A partir disso você pode tirar as conclusões que quiser. Na minha opinião, ela é uma vilã superestimada... O verdadeiro grande demônio que se ergue entre as outras quatro mil e tantas substâncias mortais presentes no cigarro é o alcatrão.

No cigarro eletrônico, apesar da falta de estudos comprovando, é evidente que você não encontra essa mesma quantidade absurda de substâncias nada amistosas e, principalmente, não encontra o alcatrão.

A proibição da importação e comércio no Brasil

A ANVISA foi taxativa na sua resolução proibindo a importação e comércio do cigarro eletrônico. Enquanto os fabricantes não apresentarem estudos embasados mostrando a segurança no uso, nada feito. E essas autorizações, para piorar ainda mais a situação, são específicas para cada marca e modelo. A liberação vai depender do empenho dos fabricantes em explorar o mercado brasileiro.

Mercado há. Muita gente se vê obrigada a burlar as regras para conseguir usar ecigs, tendo que recorrer ao contrabando. Os testemunhos que li dão conta de que o equipamento cumpre bem o papel de eliminar paulatinamente o vício de fumar ou, pelo menos, reduzir muito o dano causado. No meu curto entendimento, me parece que a saúde pública está perdendo uma ótima chance de ter uma arma eficiente na luta contra o cigarro. Como toda nova tecnologia e mercado potencial, o cigarro eletrônico perturba o status quo. Há muitos interesses em jogo.

Se você é um fumante tentando se livrar dos cigarros fedorentos mas tem medo de se arriscar, saiba que o uso e a venda do cigarro eletrônico é legalizado em boa parte dos EUA e Europa, sendo que a troca do cigarro analógico pelo eletrônico tem crescido bastante. Pobre Philip Morris... snif...

Conclusão

Essa foi a terceira vez em que tentei parar de fumar. Dois anos e meio longe do cigarro e eu me sentia livre, mas de uma hora pra outra voltei a sofrer uma vontade forte e não me controlei. É um absurdo, eu sei. Não faz sentido e com certeza aos olhos de quem nunca fumou fica parecendo que eu sou uma besta. E é verdade, eu fui, desde a primeira vez em que pus um cigarro na boca.

Agora estou usando o cigarro eletrônico e larguei de lado o maço cheio que comprei recentemente. Por enquanto, ele está cumprindo bem o seu papel. Gosto muito de vaporar enquanto estou na frente do computador e é bom fazer isso sem deixar a casa fedendo, sem ficar fedendo. Basicamente é como fumar, só que sem aquelas coisas desagradáveis do cigarro comum. Se você tiver interesse em trocar o seu cigarro fedorento pelo cigarro do futuro, você encontrará tudo que precisa saber no fórum http://e-cig.forumbrasil.net/