longe vai
longe vai

O que está acontecendo?

08/06/2012

O voo da mosca no quarto

Tem uma mosca no quarto. Veio da cozinha e no caminho para a sala entrou aqui. Já é bem tarde e tudo está quieto exceto a mosca. Ela zumbe alto e não senta nunca. Eu não posso dormir tendo uma mosca no quarto. Eu não queria matá-la, não gosto de matar nada, mas é preciso. Eu preciso me deitar e dormir. Ela voa indo e voltando enquanto meu sono escoa para os ouvidos e dissipa. O zumbido é irritante e captura toda a minha atenção. Eu me posiciono num canto e me concentro em acompanhar com os olhos a mosca no seu voo errático. A camisa que estava no encosto da cadeira agora está em minhas mãos. A mosca chega perto da mão que segura a camisa. Eu espero. Ela se afasta e eu ensaio um golpe que sai fraco. A mosca não está rápida mas eu sou muito lento. Li em algum lugar que as moscas ficam lentas e barulhentas quando estão moribundas ou será que inventei? Não importa. Tem uma mosca no meu quarto e, moribunda ou não, ela deve morrer. Ela agora voa fazendo círculos perto do teto. Eu balanço a camisa como uma bandeira. A mosca perde a estabilidade com o vento e pousa na cortina. O zumbido cessa e eu consigo vê-la. Uma mosca comum que não é grande nem pequena. Antes que eu pense em tentar acertá-la ela parte novamente. Ela senta-se na porta do armário. Estará cansada? Queria poder deitar e dormir mesmo com a mosca no quarto mas não posso. Se ao menos ela ficasse quieta e também dormisse. Não estou certo de que moscas durmam. Ela decola mais uma vez com suas asas barulhentas. O som do voo da mosca é tudo que consigo ouvir e não é possível que eu descanse enquanto ele não parar. Agora a mosca voa baixo e pousa no cobertor da cama. Tento um golpe rápido e erro. Fico irritado enquanto ela dá rasantes na minha cabeça. O zumbido. Respiro fundo devagar. A mosca se senta no espaldar da cadeira. Eu me aproximo devagar e desfiro um golpe lateral. Penso ter acertado. Ela bate na cortina e cai no chão. Está tonta. Piso nela com o chinelo. Não aplico todo o peso para não esmagá-la além do necessário. Ela finalmente está morta e eu posso me desarmar. Apago a luz e me deito sob o cobertor. No escuro minha respiração se acalma. Mas o que estou ouvindo? Esse som! Estou ouvindo uma mosca! Tem outra mosca no quarto? Não é possível eu não ter visto que eram duas as moscas. Não acredito nos meus ouvidos e tento relaxar. Penso que minha imaginação mantém o som da mosca dançando na minha cabeça. O zumbido continua e eu resolvo me levantar e acender a luz. A primeira coisa que faço é olhar no chão o canto onde a mosca caiu. Lá está ela exatamente no mesmo lugar. Eu me aproximo e observo mais tempo do que o necessário. A mosca não está se mexendo. Agora tenho certeza absoluta de que ela está morta. Observo o quarto. Meu pequeno quarto frio e silencioso. Não há mais nada voando, não escuto nenhum zumbido. Deito-me novamente e enfim adormeço.