10/01/2013
Queria fazer um som
No final dos anos 80, Pirassununga era uma cidade sem grandes opções de diversão. Hoje não mais porque agora existe a Internet. A cidade continua mais ou menos igual.
Então eu era um menino entendiado sem muito o que fazer no tempo livre. Um dos meus passatempos preferidos era sempre que possível acompanhar meu pai nas viagens que ele fazia pela região. Meu pai, marceneiro, também não tinha opção na hora de comprar matéria prima para seu ofício e precisava visitar as cidades vizinhas atrás de fornecedores. Íamos de ônibus, observando a paisagem que naquela época não era monotonamente composta apenas de plantações de cana. Invariavelmente eu sentava perto da janela.
Foi num desses passeios, andando pelo centro de Araras, se não me falha a memória, que encontrei uma loja de discos e comecei a fuçar nos LPs. Escolhi um do Ultraje à Rigor e meu pai, para minha surpresa porque tínhamos poucos recursos, comprou para mim. O LP me atraiu por causa da capa, que consistia numa grande e nítida foto dos músicos num estúdio com seus instrumentos, todos fazendo pose escrachada. Era um LP chamado Por quê Ultraje à Rigor?, onde eles registraram alguns covers de músicas que fizeram parte da história da banda. Um LP que passou a fazer parte da minha história.
As gravações eram calculadamente desleixadas, com cara de improviso e cheias de brincadeiras, com um ou outro palavrão que me obrigava a ouvir no volume mínimo em casa. Mas o mais surpreendente para mim estava no encarte, que trazia as letras juntamente com estranhos símbolos que prometiam transformar qualquer garoto esperto num rockstar.
Acho que nessa época havia um violão em casa, mas ninguém sabia tocar e sequer estava afinado. Lembro que esbocei uma tentativa e miseravelmente falhei. E no encarte o pessoal dizia que era fácil! Sou um fracasso, essa é a minha história.
Alguns anos mais tarde quando conheci meu parceiro Chico e montamos uma bandinha de garagem, forcei algumas das músicas desse LP no nosso repertório. Foi uma época bem divertida. Lembro da gente tentando tocar Barbara Anne e Os quatro cabeludos.
Nessa época a gente usava um balde dentro de um carrinho de feira como bateria. Dava um som legal. Foi um começo bem improvisado, inspirado em parte por esse álbum do Ultraje.
Em algum momento, depois de tanta teimosia, as músicas começaram a soar minimamente parecidas com o que a gente ouvia e acabamos seguindo em frente rumo ao estrelato.