21/02/2015
Isso não deveria doer
Daí que na quarta-feira eu acordei sentindo a dor mais forte que já senti nesses 38 anos de vida.
Num primeiro momento, enquanto eu flutuava numa semiconsciência e me virava na cama procurando uma posição menos dolorosa, pensei que era a boa e velha dor muscular causada pelo trabalho que tinha feito no dia anterior, carregando livros de um lado pra outro no meu sebo.
Mas não. Totalmente desperto em poucos segundos, comecei a curtir aquela dor e percebi que era um tipo novo, um tipo que eu nunca tinha experimentado antes.
Ok, não sou nenhum especialista no assunto, os diversos sabores de dor que podem ser experimentados pelo ser humano não são meu forte, então logo parei de pensar nisso e me concentrei em respirar, algo que estava se mostrando bastante trabalhoso naquela hora.
Me levantar e caminhar não foi muito difícil, o difícil foi por isso em prática. Tomei um comprimido de paracetamol e tentei ficar tranquilo enquanto esperava que ele fizesse algum efeito. Claro que não fez e a dor foi ficando mais foda.
Na primeira onda forte mesmo, eu tive ânsia e pensei “que diabos?!”. A partir da segunda já não pensei mais nada e na terceira eu estava vomitando.
No pronto-socorro a senha mágica pra passar na frente de todo mundo é “cólica renal”. Tente se você estiver querendo falar com o médico o mais rápido possível. Talvez dizer pra ele que o melhor que ele faz é voltar pra Cuba.
Então tomei buscopan com soro enquanto um velhinho com suspeita de dengue dizia pro meu irmão que chá de bigode-de-gato é um santo remédio pros rins. Uma planta, não partes de um animal. Se bem que o efeito provavelmente é o mesmo.
Não me entenda mal, eu acredito na medicina natural, saúde através das plantas e tal, mas alguém que esteja sentindo uma dor forte não quer saber de chás e de homeopatias, quer algo que seja despejado diretamente nas veias e traga alívio imediato, porque além de ser um grande inimigo da dor eu sou também um grande fã de drogas. Parece que não, né? Mas sou sim. Sou tão fã que só as uso quando é estritamente necessário, que é pra fazer efeito de verdade.
Enfim, enquanto o buscopan, meu novo melhor amigo, viajava na minha corrente sanguínea espalhando seu pequeno milagre, eu fazia minha própria incursão numa autoanálise pra tentar entender o que me levou a estar ali naquela situação.
A conclusão a qual cheguei é a seguinte: eu sou burro.
Bebo pouquíssima água porque nunca tenho sede, nunca mesmo, e tenho preguiça de me levantar e beber água pra depois ter que me levantar e ir ao banheiro. Por outro lado, ando bebendo refrigerante como se fosse água. Outro grande erro foi acreditar que ter uma dieta vegana me livra da possibilidade de desenvolver cálculos renais.
Isso já havia passado pela minha cabeça antes? Sim. Fui desleixado e ignorei o bom senso? Sim.
Como desgraça pouca é bobagem e só se aprende repetindo a lição, no mesmo dia, a noite, tive outra crise. Dessa vez foi um pouco pior e tomei algo mais forte junto com o buscopan.
Fiquei apreensivo vendo o efeito dessa segunda dose passar, mas não houve mais ataques desde então. Meu urologista — agora tenho um urologista — disse que provavelmente a pedra saiu. Eu estava prestando muita atenção, mas não tive o vislumbre disso acontecendo. Há a possibilidade de que a pedra seja maior que um grão de areia e… mas sejamos otimistas! De qualquer forma, vamos esperar o resultado do exame.
Então só me resta fazer o que está ao meu alcance. Bem, adivinha? Tenho um novo objetivo de vida: nunca mais sentir esse tipo particular de dor enquanto eu viver.
Farei o que é necessário, estou bebendo água de um modo que faria qualquer paulistano me odiar e continuarei nessa marcha enquanto houver água potável no mundo. Aliás, estou mijando água potável. Outra coisa: refrigerantes nunca mais. Adeus Coca-Cola, nosso amor foi eterno enquanto durou ;(.
Como sou um tagarela, ando contando em detalhes pra todo mundo o que aconteceu comigo e minha decisão de mudar alguns hábitos. Fiquei perplexo com a estranheza que a notícia causa nas pessoas. Parece que abstinência de refrigerantes é algo bem radical. A maioria delas diz que pedras nos rins são coisas da vida e que não é preciso tomar medidas tão desesperadas assim. Até mesmo nas palavras tranquilizadoras do médico eu percebi um pouco disso.
Talvez eu esteja sendo movido pela memória recente da dor? Talvez. Talvez os prazeres da mesa compensem esses problemas pontuais? Talvez.
Mas, vem cá, venhamos e convenhamos, veja bem, acompanhe meu raciocínio: essa espécie de roleta russa do xixi, essa trolada do rim lembrando pra você quem manda nessa porra, esse "oi" surpresa do capeta, vale um copo de soda?