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O que está acontecendo?

12/09/2020

Câmara velha para olhos velhos

Ou Como conectar máquinas fotográficas antigas em sistemas operacionais modernos

Acho que estou ficando cego. Desde o final de 2019 meus óculos não estavam mais resolvendo minha miopia e astigmatismo. Até então eu me servia de dois óculos, um para perto e um para longe, porque preferi não usar multifocal devido ao custo. No fim acabei usando apenas o para perto. E então finalmente me vi tirando os óculos para conseguir ler. Sem óculos meu ponto focal é de 20cm, com uma zona de foco limitadíssima, mas perfeito para ver coisas com detalhe.

Então de repente, não mais que de repente, os óculos não estavam ajudando muito e também comecei a notar uma certa mudança no brilho do branco. A luz branca começou a ficar um pouco ofuscante. Eu deduzi que poderia ser o tão temido momento em que a catarata aparece. Fiquei examinando meus olhos no espelho e tirei até algumas fotos para ver se conseguia identificar aquela névoa esbranquiçada característica.

Acabei protelando a ida ao oftalmologista por alguns meses por causa da pandemia, mas não aguentei muito e fui. O doutor disse que realmente estou num estágio muito inicial de uma catarata, mas que não era perceptível para mim. Muito obrigado por dizer o que eu consigo ou não perceber, doutor. Ele também disse que meus olhos estão engraçados, parecendo plástico bolha estourado. Realmente fiquei uns bons minutos gargalhando. Mas ele disse algo que me deixou preocupado: pela minha idade é muito cedo que a catarata apareça, então eu deveria procurar um endocrinologista para ver meu metabolismo(?!).

E agora estou aqui protelando essa ida a uma outra consulta, com outro médico, onde espero também ouvir outra coisa engraçada sobre a minha saúde.

De qualquer forma, é cedo para pensar em cirurgia. Agora uso óculos multifocais e preciso ficar o tempo todo mexendo a cabeça para que as coisas entrem na zona de foco, mas mesmo com lentes novas não estou feliz.

Essa redução, repentina demais, da minha acuidade visual tem me deixado irritadiço e triste. É um saco ficar na frente do computador, nada é como antes. Para você ter uma ideia, precisei baixar o monitor e aproximá-lo bem para que ele fique minimamente, precariamente, em foco. Sempre mexendo a cadeira, digo, a cabeça.

Foto de um gato de ponta cabeça
Well hello there

Bem, e o que isso tem a ver com o assunto do título, você me pergunta? Justo, vamos lá. A questão é que às vezes gosto de fotografar e todo esse drama com minha perda precoce de visão foi uma água no chope. Para tentar me auto animar, resolvi trocar de máquina fotográfica. Então vendi minha Canon T5 e fui atrás de outra. Já tenho duas lentes Canon EF, uma 50mm e uma 100-300mm, então só precisava de um bom corpo da Canon também. Eu sempre fiquei de olho nas 40D e 50D, mas resolvi que era o momento de ter uma fullframe, que costuma custar os olhos da cara, diga-se de passagem. Mas, olha só, consegui uma. Obviamente ela é do tempo em que eu enxergava como uma águia (de óculos).

Então estou agora com uma Canon 5D, a primeira câmara fullframe prosumer que a Canon lançou, lá em 2005. Essa ainda está bastante boa, embora já deva ter passado há muito tempo dos 100000 disparos, que justamente é a faixa limite antes da falha catastrófica. Ou seja, ela pode pifar a qualquer momento. Assim como o espelho que por uma falha no projeto pode se soltar inesperadamente. Em resumo: excelente câmara. Bom, dizem que as imagens são fantásticas mesmo nos dias de hoje e que ela apresenta uma imagem característica e única que lembra o kodachrome. Ainda não bati muitas fotos, então vamos confiar no que a galera fala.

Nos idos de 2005 os cartões de memória SD não eram ainda populares, então o sistema de armazenamento usado por ela é o cartão CF, que é um troço meio grande e com um conector cheio de furinhos onde se encaixam várias perninhas. É claro que essas perninhas, que ficam no corpo da câmara, eventualmente podem entortar na rotina de tira e põe do cartão. A minha máquina veio com um adaptador de SD para CF, por gentileza do vendedor, por isso coloquei um cartão SD de 8GB, suficiente para mais de 400 fotos em RAW. Como não vejo razão para ficar trocando de cartão a toda hora, fui atrás do cabinho mini USB para conectar a máquina no computador quando quisesse pegar os negativos. Foi aí que descobri que tanto o Mojave quanto o Catalina, assim como o Windows 10, não reconhecem a máquina como um drive externo.

PTP - Picture Transfer Protocol

Usando o set de comunicação da câmara em modo PTP - https://en.wikipedia.org/wiki/Picture_Transfer_Protocol - o Mojave entende que há uma câmara conectada. Esse protocolo foi originalmente pensado para que dispositivos de imagem se comunicassem com impressoras e teoricamente não dependessem de drivers do fabricante. Com isso, no Mac, é possível pegar as imagens usando os aplicativos Fotos ou Captura de Imagens. Ambos não exibem miniaturas, no caso de arquivo raw, e o Fotos pode salvar as fotos apenas na fototeca. Se você sabe como é o Mac OS, sabe que a fototeca é um pacote. Enfim, é uma bosta ter que ir depois abrir o arquivo da fototeca e arrastar os arquivos para onde você realmente quer que eles fiquem. Então o Captura de Imagens é a melhor solução e isso descarta a necessidade de baixar qualquer programa extra ou ficar caçando alguma gambiarra. Demorei para descobrir isso, então parabéns para mim!

Concluindo: se você tem aí uma câmara antiga e não está conseguindo pegar a imagem via cabo, veja nas configurações se há como usar o modo PTP.