17/05/2022
Conceito de uma vending machine de livros aleatórios similar a Biblio-mat
Quando eu vi pela primeira vez a Biblio-mat fiquei fascinado com a ideia. Se você não a conhece, veja lá primeiro: https://vimeo.com/craigsmall/bibliomat.
É uma ode a serendipidade criada pelo artista visual canadense Craig Small ( https://www.craigsmall.com) para uma pequena livraria de Toronto, no Canadá, chamada Monkey's Paw (http://www.monkeyspaw.com). Você coloca uma moeda e compra um livro que não sabe qual será. Pode ser ou não uma boa surpresa, mas para um cliente habitual de sebos provavelmente será divertido.
Parece uma ótima maneira de se livrar de títulos repetidos, muito comuns ou pouco procurados. Claro que o objetivo é celebrar a serendipidade, que é aquela coisa de você encontrar o inesperado e sair realizado e satisfeito. Algo que pode acontecer num sebo. Alguém entra procurando ou não algo específico e não encontra, mas acaba saindo feliz com alguma coisa diferente.
Hoje as coisas não ocorrem sempre assim, basicamente há uma caixa de busca em todo lugar e ela sempre traz algum resultado. Não é a mesma coisa que percorrer uma estante e ser capturado por um título intrigante. Não faltam sugestões invasivas querendo te vender alguma coisa. Nada mais é por acaso.
Bom, voltando. Desde que vi essa máquina eu coloquei na minha lista de projetos fazer algo similar. Li bastante coisa sobre vending machines e seu funcionamento e tentei entender como essa obra de arte funciona. É bastante complexa, talvez mais do que o necessário, o que é parte do conceito artístico. Eu almejei algo mais simples e fácil de fazer que alcançasse o mesmo efeito. É um problema delicado porque há livros de tamanhos e espessuras distintas, geralmente um pouco pesados. Vending machines funcionam melhor com produtos padronizados.
Quebrei muito a cabeça durante esses anos e abandonei e retomei o projeto diversas vezes. Recentemente cheguei ao que considero ser uma solução elegante para o problema. É simples e nada difícil de construir. Não é preciso usar qualquer microcomputador controlador como Arduino, essas coisas que nem entendo direito. Só é preciso um motor, uma faixa de tecido forte e longa, alguns interruptores e um circuito start/stop de pulso ativado por um noteiro ou moedeiro, numa caixa com algumas características próprias.
A solução veio agora, anos depois, num momento em que não tenho pretensão de por em prática. Talvez nunca a construa.
Como patentear a ideia seria um trabalho absurdo e tolo, dou a minha invenção para o mundo :).
Fiz um desenho da máquina no formato em que eu a construiria. Assim, tipo um livrão estiloso. E com o esquema interior que mostra a lógica de funcionamento. Espero que o desenho seja suficiente para você captar a ideia.
Os Livros em verde e
a faixa de tecido em vermelho
Agora vou explicar de uma maneira bem enfadonha como a máquina funciona. Sei lá, lê aí se quiser ou apenas vá embora e volte a fazer o que você estava fazendo antes de vir viajar na maionese comigo.
Funciona assim: os livros ficam empilhados um sobre o outro, tendo um trilho de guia no topo e no pé. Tanto a lombada quanto o corte frontal ficam livres. Idealmente livros de mesmo tamanho, mas pode ser que dê certo com tamanhos um pouco diferentes também. Os livros são separados por uma tira de tecido num vai e vem sanfonado. Essa tira não deve ser muito larga, algo em torno de 10cm, deve ser forte e longa o suficiente para passar por todos os livros da pilha. A ponta superior fica presa a um eixo que por sua vez está atrelado a um motor. Acredito que um motor de vidro de carro serviria bem. A outra ponta deve estar presa embaixo do último livro da pilha.
Esse motor deve estar conectado a um circuito de liga/desliga de um toque, ou seja, que liga o motor com um contato momentâneo e o desliga com outro contato momentâneo. Aqui está o circuito, é bastante fácil de fazer: Circuito-liga-desliga.pdf
Quando o moedeiro/noteiro dá o pulso no circuito, o motor é ligado e começa a enrolar a tira de tecido. Isso faz com que o livro mais acima seja erguido pela lombada ou pelo corte frontal. Ele então cai da pilha. A caixa da máquina deve ser construída de modo que o livro caia por um caminho mais ou menos definido, tanto de um lado quanto de outro, e que nesse trajeto ele esbarre num interruptor que, da mesma forma que o moedeiro/noteiro, está conectado ao circuito de liga/desliga. Quando o livro esbarra nesse interruptor o motor para de girar. O livro cai então num nicho de onde pode ser retirado pelo comprador.
Quando novamente o noteiro/moedeiro recebe o valor definido e aciona o motor, outro livro cai da pilha, dessa vez do lado oposto ao do anterior. E de novo o próprio livro desliga o motor durante a queda. Embaixo do último livro da pilha deve estar posicionado um interruptor de pressão, de modo que quando esse último livro é erguido a máquina desligue por inteira ou pelo menos o noteiro/moedeiro, para evitar que alguém compre e não receba. Uma boa alternativa é que exista mais uma pilha de livros ao lado e que esse interruptor na verdade comute a eletricidade de um motor para outro. Como pode haver um problema ao erguer o último livro e a máquina ser desligada antes que ele caia, talvez seja melhor que a ponta da faixa de tecido esteja presa a um interruptor que se desliga ao ser puxado.
Para recarregar a máquina basta desenrolar a faixa do eixo do motor e ir colocando os livros intercalados novamente. Com cuidado para que a faixa não fique frouxa e fique bem alinhada no meio da pilha. A quantidade de livros depende da altura da máquina. Usando a ideia de comutar entre pilhas, você pode ter facilmente uns 300 livros em 3 pilhas numa máquina medindo aproximadamente 2x1x1.
Ufa! Faz sentido? Na minha cabeça funciona como um relógio suíço. É uma obra de arte da engenharia amadora. Imagino que pode dar certo com outro tipo de produto também. Bora fazer?