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O que está acontecendo?

07/12/2022

Finalmente algo confortável

Na primeira vez em que tentei criar no computador uma biblioteca de músicas usei o Windows Media Player e converti CDs para o formato WMA. Escolhi esse formato porque oferecia qualidade sonora superior ao do MP3. Depois de dedicar um bom tempo organizando, criando pastas e renomeando os arquivos, tudo pareceu muito bom e no sexto dia eu descansei.

Funcionou durante um tempo, mas quando precisei formatar ou trocar de computador (não lembro mesmo), descobri que esses arquivos foram criados com algum bloqueio de DRM e não tocaram mais na nova instalação e em nenhum outro computador. Isso faz tempo e não eram centenas de músicas, mas lembro que fiquei bem triste. Na época não havia o que fazer, nenhum método de conversão ou solução ao alcance de um google. Todo o trabalho foi perdido. Desperdiçar tempo e trabalho é meio que uma constante na minha vida. Como dizem, "o burro trabalha duas vezes".

Anos depois tentei organizar minha coleção usando o iTunes. Foi bem mais fácil, pois o programa já baixava as informações dos álbuns e até a capa. Quer dizer, um disco ou outro precisava de trabalho manual, incluindo aí uns 50 discos de música erudita. Tudo bem, trabalhei nisso com dedicação, mesmo não sendo ouvinte assíduo de música erudita! Por alguma razão eu queria ter algumas sinfonias à mão para momentos introspectivos ou algo assim.

Essa coleção eu mantive e cultivei durante anos, mesmo dando trabalho toda vez que trocava de máquina ou, novamente, formatava tudo. Jogava os arquivos de um lado para outro, perdia algumas capas, mas funcionava.

Por outro lado, mesmo com um bom número de músicas no HD, nunca larguei de vez os CDs. Incontáveis vezes me livrei deles para depois juntá-los de novo. Tenho um bom punhado e quase nunca me dou o trabalho de selecionar um para ouvir. Juntam muita poeira e ocupam bastante espaço. Com a idade e com a obrigação de ser o faxineiro de casa, isso tem sido um transtorno.

Eu queria ser dessas pessoas organizadas até mesmo nos hábitos de entretenimento, mas não sou. Criar playlists, que loucura! Não uso Spotify, Deezer, essas coisas, pois não vejo vantagem num serviço que ia comer uns trocos todo mês e que provavelmente eu usaria pouco. A verdade é que quando quero ouvir música geralmente abro o Youtube ou procuro alguma rádio online. É fácil e confortável para quem só ouve música quando está em casa e na frente do computador. Até mesmo abrir o iTunes acaba sendo mais trabalhoso.

Uma música vem a cabeça, cantarolo e sinto vontade de ouvi-la. Como fazer isso sem envolver uma considerável quantidade de passos?

Cena do filme O cheiro do ralo.
Você sabe que Deus criou o mundo, mas foi o homem que tornou o mundo confortável. O homem é o Deus do conforto. (do filme O cheiro do ralo)

Faz sentido. E o homem sacrificou e sacrifica muito pelo conforto, até mesmo a privacidade.

E não é que é verdade?

Foi assim que dias atrás li um artigo dizendo que a Alexa tem dado prejuízo para a Amazon e fui pesquisar um pouco sobre assistentes virtuais, assunto que nunca chamou muito a minha atenção. Dar comandos de voz para o Google ou a Siri não se tornaram um hábito, embora esse tipo de recurso sempre me parecesse bem útil. As preocupações com privacidade me mantiveram afastado dessas facilidades. Aliás, evitar ao máximo usar a Amazon e o Google são regras que tento seguir. Mas regras são feitas para serem quebradas.

Depois de ler um pouco sobre esse tipo de dispositivo e aproveitando o preço da black friday, optei pelo sistema da Amazon. A Alexa é a terceira ou quarta assistente virtual mais popular e entre vantagens e desvantagens frente aos concorrentes estão a rapidez com que ela responde e a voz macia e humana. Também é a Amazon que oferece o melhor custo/benefício quando a intenção é um aparelho mais adequado para ouvir música.

Foto de uma Amazon Echo sobre uma mesa
Tem até Galinha Pintadinha, mano.

Essa bola espiã, que tem o tamanho e o peso de uma bola de handball, vem com seis microfones e três falantes. O som é bem forte, teoricamente 30 Watts, com graves e agudos realçados que felizmente podem ser ajustados ao gosto do freguês. O resultado é um som bem sólido que preenche um quarto grande com sobra. E os microfones captam até sussurros e a fala normal mesmo que ela esteja tocando música alta.

E como eu falei, ela é rápida na resposta, mesmo que seja para dizer "I'm sorry Dave, I'm afraid I can't do that."

Comprei duas, essa maior para meu quarto e o modelo pequeno (Echo Dot), para ficar na cozinha. A pequena também tem um som muito bom. Para ter acesso direto a qualquer música, ou quase qualquer música, precisei renovar a assinatura Prime. De outro modo só é possível ouvir playlists definidas arbitrariamente e por estilo musical. Ou então usar esses outros serviços de streaming famosos. Mas já gastei demais com esses luxos e confortos.

Mas estou achando que foi um bom investimento. Só o lance de ouvir música aleatoriamente já compensou, mas tem mais. Ela me acorda na hora que peço para me acordar, responde perguntas sobre curiosidades, faz cálculos. É uma maravilha do mundo moderno! Estou até pensando em comprar um soquete inteligente para que ela possa acender ou apagar a luz e o ventilador. Olha que confortável!

O passado que vive no futuro

A Alexa me traz um pouco daquele sentimento de quando eu era criança e sintonizava estações distantes num rádio Transglobe. Ouvir rádio não é meu foco, mas é divertido abrir um streaming de uma rádio desconhecida sabe se lá de onde. Ondas curtas, alguém lembra?

Foto de um rádio Philco Transglobe
Isso é um Transglobe, filho.

Mas nessa nossa modernidade toda nem tudo está a mão e sempre pode faltar alguma coisa. A Alexa usa o TuneIn (https://tunein.com) para a maioria das rádios convencionais que também transmitem pela Internet, mas existem particularmente três rádios que eu e a família costumamos ouvir e não estão lá, ou estão quebradas, então fui em busca de uma solução. Além de não estarem no TuneIn, é quase certo que não tem aplicativo dedicado para a Alexa, então é uma oportunidade de aprender como se criam esses aplicativos, que são chamados de skills. Li um pouco sobre como desenvolver skills e usando um modelo fornecido pela própria Amazon consegui criar as que eu precisava.

Uma para a rádio comunitária Kerigma FM (https://www.amazon.com.br/dp/B0BP9Y2XPC), outra para a Difusora FM (https://www.amazon.com.br/dp/B0BPF13BYC) e outra para a Imprensa FM de Vargem Grande do Sul, minha favorita desde sempre (https://www.amazon.com.br/dp/B0BPF3CZB1).

Existem assistentes de voz com foco em privacidade

Talvez a mais conhecida seja o Mycroft (https://mycroft.ai), que é open source e permite ir bem fundo na personalização, aparentemente indo além do que os assistentes comerciais como a Alexa oferecem. A empresa que mantém o projeto vende alguns dispositivos já com ela embarcada ou você pode montar o seu. Não é para qualquer um montar um desses e deixar tudo redondo é um trabalho tão duro quanto digitalizar uma biblioteca de CDs. É muito mais cômodo trocar nossos dados por uma solução pronta, porque conciliar conforto e privacidade pode acabar sendo um trabalho hercúleo.