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O que está acontecendo?

02/06/2023

Recuperando outra japonesa

A Fujica Half 1.9 é mais uma das câmaras japonesas da década de 1960 que fazem fotos de meio quadro. Conta com obturador de 1/8 a 1/500, além de bulb, e uma objetiva de 33mm com focagem por zona e 1.9 de abertura total. Diferente das Olympus Pen EE, o fotômetro não controla nada, essa é uma câmara totalmente manual.

É um modelo bastante incomum na Internet e talvez raro no Brasil. Comprei porque queria uma máquina de meio quadro com mais possibilidades e a lente luminosa chamou minha atenção. Ela chegou disparando, mas o obturador não estava abrindo e fechando como deveria. Então comecei a desmontar.

Aqui estão algumas fotos da desmontagem: https://www.flickr.com/photos/robertostrabelli/albums/72177720308452970

A limpeza interna correu bem, com bastante álcool isopropílico o obturador voltou a funcionar corretamente em todas as velocidades. A parte difícil foi a limpeza da cola do revestimento, que também foi aplicada como trava em alguns parafusos. Simplesmente muita cola dura, seca e esfarelando para todo lado. Infelizmente essa é mais uma máquina em que o fotômetro não tem recuperação. Dessa vez o problema não foi na célula de selênio, que está boa, mas sim no VU. Tentei adaptar outro, mas sem sucesso. Felizmente nesse modelo não se perdem as capacidades de regulagem de obturador.

Embora tenha um sistema de mudança de obturador e abertura bastante eficientes, inclusive com os valores podendo ser vistos através do viewfinder, essa câmara não tem ergonomia tão boa quanto a daquela Olympus Pen. É mais pesada e maior, também mais complexa na desmontagem, óbvio, mas não me pareceu melhor construída e robusta que a Olympus. Não pude limpar todas as lentes como eu queria por falta daquela bendita chave especial para desrosqueá-las. As mais fundas na objetiva estão com alguns pontos de fungos.

O revestimento estava praticamente cimentado e foi trabalhoso retirar tanta cola do corpo da máquina. Por causa disso preferi usar qualquer coisa que estivesse a mão como revestimento e que pudesse ser retirado facilmente. Papel contact serviu.

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Terminado o trabalho, coloquei um rolo de filme novo e fui bater algumas dezenas de fotos. Usei a regra sunny 16 na maior parte do tempo, mas também fotometrei algumas para garantir que algo sairia. Fiz anotações sempre que possível para avaliar os resultados e aparentemente está tudo funcionando. Porém perdi um bom palmo de filme porque ele resolveu começar a enrolar do lado errado. Com isso tive que parar mais ou menos depois de umas 50 fotos, quando o filme não ia mais para a frente. Tive também que abrir a máquina no escuro porque não estava macio para rebobinar e forçar seria um erro. Constatei que o filme se soltou do rolete onde deveria ir se enrolando e a engrenagem que o vai puxando começou a empurrar tudo pelo vão entre os dois eixos, então o filme foi dando voltas ali até não caber mais. Você já percebeu que não sou bom em explicar as coisas?

A princípio pensei ser uma característica mal projetada da câmara, mas olhando o manual com cuidado percebi que o problema é mesmo o usuário, sempre o usuário. De qualquer forma, posso afirmar que na Olympus Pen as chances de acontecer isso são bem menores. O resultado foi um filme com riscos e amassados e uma ida prematura ao laboratório de revelação, aka cozinha de casa.

Revelando

Acredito que encontrei uma nova fórmula de caffenol que se encaixou bem com o filme preto e branco da Shanghai. Mesmo assim achei que o grão está muito evidente. É o primeiro filme não vencido e preto e branco de verdade que eu revelo, então não sei nada com certeza. Dessa vez usei uma daquelas balanças pequenas de precisão para medir os ingredientes. Também descobri que o carbonato de sódio que eu tenho, daqueles sacos de 2kg para tratamento de piscina, é do tipo monoidratado, portanto a medição deve ser de acordo com isso. Acrescentei sal comum de cozinha porque ele age mais ou menos como o brometo de potássio, que funciona como estabilizante do revelador e costuma ser um dos ingredientes dos reveladores tradicionais. Evita embaçamento e melhora nitidez e contraste. Fórmula e procedimentos foram os seguintes:

Fórmula do revelador
Fórmula do fixador
Processo de revelação
  1. REVELAÇÃO: (agitar 10 segundos e descansar 50 segundos) x 15
  2. INTERRUPÇÃO: Descartar o revelador e encher e esvaziar o tanque 3x com água em até 1 minuto
  3. FIXAÇÃO: (agitar 10 segundos e descansar 50 segundos) x 6
  4. SECAGEM: abrir o tanque, retirar o filme da espiral e pendurar para secar com um peso na ponta

Estou confiante que minha conduta foi exemplar durante o processo, girando o tanque com delicadeza e constância, dando aquela pancadinha para evitar bolhas e tudo mais. Dessa vez o filme saiu do tanque visivelmente revelado, mas lamentavelmente uma ou outra fotografia ficou marcada por dobras e riscos causados pelo enrosco dentro da máquina.

Digitalizando

Esse foi o setup para digitalizar: Canon 5D com dois tubos extensores dando 52mm e um suporte de negativo feito de madeira. Obturador em 1/2, abertura em f/11 e ISO 50.

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Vamos ver algumas das pérolas?

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Tem mais no álbum do Flickr, inclusive uma foto do rolo de filme Shanghai desmontado. Ele é de plástico e provavelmente poderia ser reutilizado: https://www.flickr.com/photos/robertostrabelli/albums/72177720308468173/with/52915793558/

Fontes

2022 Ⓒ Roberto Strabelli • Alguns direitos reservados.

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